“Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira. Mas tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum”.
Monteiro Lobato
O cursinho comunitário Prevest.com, que é mantido através de voluntariado há 9 anos, teve sua aula inaugural de 2010 no último dia 8 na Escola Estadual Silvério Sanches.
O Prevest.com foi idealizado e é coordenado pelo professor e vereador Paulino Abranches, que tem um envolvimento integral com esta causa: “Costumo acompanhar de perto o desenvolvimento dos alunos e planejo me dedicar mais, trazendo novas ideias e propostas para o Prevest.com quando me aposentar, daqui a uns 3 anos” – confidencia.
Um cursinho com uma proposta diferenciada, não assistencial, mas comprometido com a transformação social: é assim que Paulino define o objetivo da iniciativa. “Não estamos lá para fazer caridade, mas para oferecer para aquele jovem de escola pública, que teve bom desempenho no ensino médio e não consegue pagar o cursinho tradicional, a possibilidade de ingressar numa universidade. A possibilidade de concretizar uma vida melhor através da educação”.
Paulino agradece a todos os voluntários que cerram fileiras nesta empreitada e também aos parceiros que têm colaborado regulamente para manter o Prevest.com funcionando: Fupai, Ômega, Colégio das Irmãs e Colégio G9. Nesta entrevista, o educador conta em detalhes o nascimento deste trabalho:
- Onde você se inspirou para criar o Prevest.com?
As primeiras experiências em pré-vestibular comunitário saíram de paróquias das igrejas católicas da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. A ideia era priorizar estudantes negros que não possuíam condições econômicas para pagar as mensalidades dos tradicionais cursinhos. Assim, surgiu a Rede Educafro (Cursinhos Pré-vestibulares Comunitários para Negros).
Como a experiência tornou-se conhecida através de revistas cristãs e dos meios de comunicação de circulação nacional, a Escola Estadual Silvério Sanches resolveu adaptar para sua realidade tal experiência. Na época, eu já era professor lá e a necessidade de um projeto que respondesse a algumas demandas sociais era premente.
- E quais eram essas necessidades?
Por sermos uma Escola de periferia, com todos os problemas socioeconômicos derivados do próprio meio, parcela de nossa comunidade não via nossa escola como parâmetro de construção social e por isso nem sempre colocava seus filhos em nossa escola. Este preconceito é o resultado de uma não integração entre escola e comunidade, pois os que aqui estudam valorizam e se sentem parte integrante do processo educacional e tanto alunos quanto pais não se sentem ameaçados diante de tal preconceito.
Buscando uma relação mais direta entre escola e comunidade, tendo como objetivo a busca constante da autoestima do aluno, passamos a desenvolver projetos que, através de atividades extraclasse, possibilitassem um efetivo resultado para o nosso dia-a-dia de escola como também para a eliminação dos preconceitos existentes.
- O primeiro projeto foi o Prevest.com?
Ainda não. No ano de 2000, por iniciativa da então diretora Maria Parraga, implantamos o PSIU (Projeto Social de Integração e Urgência) no qual oferecíamos cursos de formação e integração. Todos os cursos seriam ministrados por voluntários, funcionários da própria Escola e elementos da comunidade. Os cursos eram de iniciação a informática, culinária, desenho artístico, artesanato, canto coral, violão , teatro, reforço de matemática, tênis de mesa e bordado. O resultado foi tão positivo que nos levou a intensificar o projeto. Porém, resolvemos que nesta segunda fase estenderíamos para a comunidade, já que os cursos em andamento tinham como alvo os alunos da escola, principalmente os da quinta série.
Então, em uma análise mais aprofundada de nossa comunidade, detectamos que nossos ex-alunos, com o ensino médio completo e idade escolar não defasada, encontravam-se à mercê da sorte, visto que não conseguiram aprovação na Universidade Federal de Itajubá (Unifei), que, em razão do contexto econômico, era a única instituição de ensino cabível para os mesmos, pelo fato de os cursos oferecidos serem públicos e gratuitos. Outra questão que nos colocava bastante distantes destes alunos era o fato de nossa Escola não possuir o Ensino Médio. Perdíamos o contato com os mesmos após a oitava série do ensino fundamental.
- O aluno fazia parte da comunidade, do bairro, mas já não freqüentava a escola...
Sim. Desta forma, nos voltamos para esta parcela da nossa comunidade. Resolvemos desenvolver projetos que atendessem esses nossos ex-alunos. Esta seria uma resposta para a comunidade que nos valorizou quando acreditou em nosso trabalho, colocando seus filhos em nosso estabelecimento de ensino. E, por outro lado, estaríamos também buscando uma integração maior junto à comunidade, já que este trabalho seria voluntário e fora de nossa abrangência. Nossa escola até então era só de ensino fundamental. Os jovens atendidos seriam para nós um apoio, pois eles eram lideranças e nos ajudariam a elevar essa proposta junto à comunidade.
Resolvemos então nos colocar a disposição deles, como suporte preparatório ao vestibular da Unifei, oferecendo plantões de dúvidas juntamente à revisão dos conteúdos do segundo grau, pois estes alunos não possuíam condições de frequentarem os tradicionais cursinhos que proporcionam fazem este trabalho de revisão.
- Foi preciso investir em propaganda neste início, para ir em busca dos ex-alunos da Silvério?
Não. A notícia se espalhou e a resposta foi tão imediata que alguns alunos souberam do Projeto, se articularam e nos procuraram. A partir daí, resolvemos concretizar o sonho destes jovens partindo do trabalho voluntário de professores e estudantes universitários, oferecendo-lhes um cursinho pré-vestibular para que juntos, comunidade e escola, pudéssemos nos completar e nos fortalecer.
- E desde então, como tem sido trabalhar no Prevest?
A cada dia um novo desafio, o que nos mantém muito motivados. Lembro o ano de 2001: o mês de abril tornou-se o marco de um projeto, que se fortalece a cada ano, porque então vimos que vários jovens se transformavam em universitários. Hoje, nossa comunidade possui um número significativo de estudantes universitários que passaram pelo Prevest.com (Pré-vestibular Comunitário da Escola Estadual Silvério Sanches). O sonho de muitos estudantes adolescentes, juntamente aos seus familiares, não mais fica no patamar da utopia. O Prevest.com é o caminho para possibilitarmos a realização de muitos que sonham com uma sociedade justa e feliz.
Todo este projeto só tem sido possível com a participação dos voluntários. A cada ano, eles também se sentem realizados, pois os resultados são tão expressivos que chega até a emocionar a todos. São mais de vinte professores que entregam um tempo de suas vidas para a valorização e a construção de oportunidades, na certeza de um mundo mais justo e fraterno.
Vereador Paulino fala aos alunos do Prevest.com na aula inaugural de 8 de março.
Assessoria de Comunicação
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Paulino Abranches.