terça-feira

O CASO DOS PROFESSORES-GAMBÁS DA CIDADE DE BRUZUNDANGA OU A COISA INODORA

Para começar, o chavão: era uma vez! O causo é verdadeiro: foi no tempo em que os bichos falavam. E, se falavam, era porque sabiam muita coisa. E, se sabiam muita coisa, certamente tinham bons professores-bichos.

Nesse tempo que já vai longe, na cidadezinha de Bruzundanga, a fartura de professores-bichos veio abaixo. Os maus tratos, a desconsideração, o veneno de batata, de tomate, de cenoura, a falta de matas e de fontes de água – tudo isso diminuiu a população de bichos que sabiam ensinar nas escolas de bichos.

Num primeiro momento, as famílias da bicharada decidiram que não haveria mais escolas separadas, só de tatus, só de ouriços, só de gambás ou só de lobos e de pacas. As escolas seriam ecumênicas: haveria aluno-bicho de todas as categorias de animais silvestres na mesma sala. A coisa não era fácil. Parecia uma Babel (com a obrigação de se falar uma só língua), mas assim se decidiu.

Outra decisão foi que um professor-tatu, formado em direito, poderia dar aula de matemática e um professor-gambá, formado em biologia, poderia dar aula de língua portuguesa ou de história, por exemplo. Por último veio a decisão maior: a fé desmedida nas apostilas. Segundo a prefeitura (que seguia um tal de Comenius do século XVII), elas resolveriam tudo. Ensinariam tudo a todos – até sem professor formado. Dessa maneira, camuflaram o problema por uns tempos.

Acontece que a arrumação não durou muito. Ninguém aprendia nada. Então começaram a indicar culpados. Primeiro colocaram a culpa nos professores; depois, culparam os alunos. Uma diretora chegou a comentar que era uma pena colocar apostilas tão lindas nas mãos de tanto aluno tapado.... Assim, os professores mais velhos foram morrendo e os mais novos não tinham nenhuma simpatia pelo magistério.

No meio disso tudo, aconteceu o pior. A maioria dos bichos restantes foi sumindo do mapa, saindo da terra natal em busca de coisa melhor. Isso ocorreu também com os professores. Foram quase todos para uma cidadezinha de Minas, chamada Alagoa. Não sei bem se é verdade, mas os jornais da época dizem que lá a prefeitura pagava um piso salarial maior do que o exigido por lei. Eu mesmo vi alguns retirantes passando pelos Pintos Negreiros e pela Barra, caindo nos buracos da estrada, levantando-se e seguindo em frente, com mala e matula.

Todos os professores-bichos se foram, magruços, sofridos e resolutos. Ficaram alguns professores-gambás. Esses, embora não fossem esbeltos (trabalhavam muito e ganhavam pouco), sobreviviam porque, nos arredores da cidade, tinha muito ovo de galinha, que eles bebiam na calada da noite.

Os jornais da época dizem que em Bruzundanga o ovo se tornou uma importante moeda de troca. Era comum as diretoras prometerem um ovo para três professores por uma presença às reuniões ou pela entrega dos planos de ensino dentro do prazo. A prefeitura era mais generosa: em época de ameaça de greve, distribuía um ovo e meio para cada agitador. O Estado dava até três. Assim, tudo continuava.

Passados os anos, começou a aparecer aluno-bicho que nem falava mais, só grunhia e guinchava. Então, a câmara de vereadores, o prefeito e as diretoras, todas as autoridades-gambás tomaram uma decisão: “vamos para Alagoa importar professores, seja lá que bicho for! E foram.

Depois de bombásticos anúncios nos jornais de Alagoa, a diretoria da associação de professores alagoenses, por educação, recebeu a caravana de importadores bruzundanguenses em um grande anfiteatro com muitos e bons professores novos pensando no primeiro emprego.

Então, o chefe da caravana falou das belezas da cidade de Bruzundanga, do azeite, da batata e da abundância de ovo como aditivo de salário - e disse que queria contratar professores alagoenses. Em seguida, a secretária passou a falar das tarefas de cada contratado.

Segundo ela, cada contratado (se contratado) assumiria, além de outras tarefas, 5 turmas de 87 alunos-bichos, sendo uma turma letra “A” ou “B” (os melhores ou de famílias influentes) e quatro turmas “X” e “Z”, (os piores, o refugo) – essas turmas geralmente localizadas na periferia da escola ou da cidade. Por fim, concluiu, REVELANDO O PISO SALARIAL que pagariam e dizendo que os contratados não se arrependeriam, pois os alunos, todos gambás como os da caravana, eram muito bons e a remuneração extra, por meio do incentivo -ovo (de galinha, de codorna e de tico-tico) era melhor ainda. Foi a gota d’água!

Quando a secretária disse “passemos então às inscrições”, todos saíram da sala meio apressados. Não ficou ninguém. Só o representante da associação alagoense – e somente por respeito, pois era muito educado e falava bem que era uma beleza. O chefe da caravana, então, protestou:

-“Preconceito! Abaixo o preconceito! Me sinto ofendido! Eles não querem ir ensinar em Bruzundanga POR CAUSA DO CHEIRO FORTE QUE TEMOS, não é?

- “Não, nada disso, disse educadamente o presidente da associação alagoana. Eles se recusaram a ir e fugiram POR CAUSA DA FALTA DE CHEIRO... O PISO SALARIAL PROPOSTO por vocês é INODORO!!!

- “Mas não é FEDORENTO!” Retrucou o chefe da caravana bruzundanguense, irritado e de dedo em riste.

-“O que é bem pior, meu caro! Esse piso salarial NEM FEDE E NEM CHEIRA! Nem espanta de vez e nem atrai de verdade nossos jovens candidatos a professor! Diante de um salário desses, o professor pode ADERIR ao magistério, mas nunca vai ASSUMIR o trabalho de educação. Isso é coisa parecida com o que acontece em campanha eleitoral: um partido adversário de outro, por conveniência, por não ter outra coisa a fazer em determinada circunstância, ADERE temporariamente a ele, MAS NÃO ASSUME as suas bandeiras. Disse isso e despediu-se dos visitantes de Bruzundanga.

- “Vamos embora, disse um bruzundanguense em voz alta, pois esses professores não tem vocação!”

Os jornais da época, muito amarelados e faltando paginas, não fornecem muita informação sobre o fim dessa história. A não ser uma foto descorada de um contracheque da época. – com a informação de que o contracheque dos professores tinha um metro de comprimento (por causa dos penduricalhos das recompensas-ovo) e meio centímetro de salário... Ninguém sabe como isso terminou. Sabemos apenas que hoje os bichos não falam mais, apenas grunhem e guincham. E, por isso... os homens os amam tanto...

Genésio Fernandes

segunda-feira

É PROIBIDO PROIBIR...

O prefeito de Itajubá enviou projeto de lei para a Câmara Municipal pedindo autorização dos vereadores para leiloar o prédio onde se instalava a fábrica da antiga Cabelte, no bairro da Jarrinha, próxima a rodovia BR 459, altura do bairro Santa Rosa.

Votei contra esta proposta porque entendo que patrimônio não deve ser desfeito. Nossa cidade precisa de área construída,somos carentes neste setor. Precisamos de Centro de Convenções, Condomínio de Micro e Pequenas Empresas, Arquivo Municipal, Centro Cultural, Almoxarifado, Porto Seco e tantas outras áreas que é inaceitável permitir a venda de um espaço construído que no futuro próximo poderia ser utilizado.

O Brasil cresce economicamente. Somos destaque internacional, mesmo com uma crise mundial somos visto como uma potência que se estabelece. Itajubá não esta fora deste contexto. O caixa do município cresce a todo ano e por conta disto, necessitamos de mais espaço para a convivência da municipalidade. Na Era FHC houve um processo de privatizações que tirou do Brasil patrimônios importantes e que em nada serviu para trazer crescimento. O nosso crescimento foi garantido pela distribuição de rendas para as famílias consideradas pobres e miseráveis. Vender patrimônio público é não perceber a onda que o Brasil promove. É uma visão muito pequena e particular acreditar que vender é a solução. Pior é tentar convencer a população que vendido o prédio teremos dinheiro para a infraestrutura principalmente para o bairro da Medicina. Por que este bairro não foi priorizado no momento do asfaltamento? Por que, no bairro Medicina, antes da drenagem o Prefeito optou por praças (Rotatória, Jacaré e da Igreja)? A drenagem não era mais importante? Porém, no momento que existe a intenção da atual administração vender para a Cabelauto, já é algo estranho, pois se é leilão como garantir que a referida empresa consiga ganhar o tal leilão? É carta marcada? Que acordo foi feito para garantir a venda? Onde foi negociado? São situações levantadas que com um mínimo de bom senso é seguro dizer NÂO.

É Proibido Proibir

A mãe da virgem diz que não
E o anúncio da televisão
E estava escrito no portão
E o maestro ergueu o dedo
E além da porta
Há o porteiro, sim...

E eu digo não
E eu digo não ao não
Eu digo: É!
Proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir...
Caetano Veloso

VEREADOR PAULINO ABRANCHES