segunda-feira

Entenda a Crise dos Alimentos

A recente alta nos preços dos produtos agrícolas em todo mundo foi motivada por uma série de razões e a partir daí se tornou uma crise mundial. No caso do Brasil, o ano de 2010 teve uma inflação acumulada de 5,9%. Porém, deste valor quase 70% foram causados pela alta dos alimentos. Principalmente quando presenciamos uma nova classe média como consumidora, existiu um aumento de consumo interno e não um aumento de produção voltada para o mercado interno.

Este quadro tem produzido uma discussão internacional onde várias instituições como Banco Mundial, FMI, BIRD,FAO já se manifestaram sobre o assunto.

Várias razões formam as causas que desencadearam a crise dos alimentos no mundo, algumas seguem:

-Desenvolvimento Global: A longa fase de prosperidade mundial, com especial força nos países emergentes, fez crescer significativamente o consumo de alimentos no mundo. Assim, os seguidos anos de calmaria deram condições para que o comércio exterior disparasse, o que gerou renda nos países mais pobres --estas nações são referência histórica tanto na produção de matérias-primas como para base de empresas multinacionais. Com mais dinheiro no bolso, a população desses países, entre eles Brasil e China, passou a consumir mais, sendo que os alimentos foram os primeiros produtos a terem seus consumos elevados, causando um descompasso entre oferta e demanda.

-População: A população mundial está em franca expansão. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), passará de 6,5 bilhões de pessoas em 2005 para 8,3 bilhões em 2030 e 9 bilhões em 2050. O efeito do aumento do número de pessoas que se alimentam ganha ainda mais peso porque a maioria delas nasce na Ásia e na África, onde o consumo de alimentos cresce em ritmo mais rápido devido ao desenvolvimento econômico desses continentes.

-Secas: Alguns dos principais produtores mundiais de alimentos, como o Brasil e a Austrália, passaram recentemente por fortes secas que atingiram a produção. Na Austrália a seca já perdura por seis anos, enquanto que o Brasil e o Leste Europeu tiveram problemas entre 2005 e 2006. Com a quebra de safra nesses países, os estoques foram reduzidos e agora estão perigosamente baixos devido ao aumento no consumo.

-Petróleo: Assim como os alimentos, os preços de outras commodities (matérias-primas) também estão em alta. É o caso do petróleo. O produto está com seu preço em níveis recordes, o que causa impacto em toda a cadeia de produção e distribuição de alimentos. Quase todas as fazendas usam óleo diesel para movimentar as máquinas, e os fertilizantes possuem também diversos componentes vindos do petróleo. Além disso, o combustível mais caro eleva o preço do transporte dos alimentos para os centros consumidores, elevando o preço final da comida.

-Especulação Financeira: Quase todos os principais alimentos possuem mecanismos financeiros de compra e venda em um prazo pré-determinado, o que é chamado de mercado futuro. Nos últimos meses, os preços dos alimentos no mercado futuro dispararam devido à entrada de muitos investidores neste tipo de investimento. Eles apostam exatamente que estes preços irão crescer. Se isso ocorre, eles lucram, já que poderão vender o que têm a valores maiores do que o investido inicialmente.

-Enfraquecimento do Dólar: O dólar é a moeda usada para a cotação das commodities agrícolas em quase todos os principais mercados futuros. Como a moeda americana está em níveis históricos de queda ante outras moedas fortes, como o euro, os investidores forçam a alta do preço dos alimentos no mercado futuro para "compensar" essa desvalorização.

-Alta nos custos: A produção de carnes em geral recebe duplo impacto. Seus custos disparam não só pela alta do petróleo, mas pela própria alta no preço dos alimentos, já que alguns deles --em especial o milho-- são usados na ração dos animais.

-Biocombustíveis: Diversas entidades, como a ONU (Organização das Nações Unidas) e o FMI (Fundo Monetário Mundial), reclamam do desvio de parte da produção agrícola para a produção de biocombustíveis. O resultado, segundo eles, é que a oferta cai ainda mais em um momento de alta na demanda, causando a elevação dos preços. O caso mais criticado é o do milho, usado nos Estados Unidos para a produção de álcool, que levou à disparada do preço do produto no mercado internacional já no ano passado. Também criticam a substituições de lavouras tradicionais pelas de cana-de-açúcar, em um ataque direto ao Brasil, principal exportador de álcool do mundo e que usa a cana-de-açúcar para extrair o produto.

-Travamento da exportação: Diante do risco de desabastecimento, grandes países produtores de alimentos estão impedindo a exportação, agravando o cenário nos países importadores. Os casos mais recentes foram vistos com o trigo argentino e o arroz indiano e vietnamita.

-Questões Pontuais: Além de todos os problemas apresentados acima, ainda temos a alta dos preços de alimentos resultado de catástrofes naturais como secas e enchentes que sobem de forma pontual os preços.

Este quedro coloca péssimas expectativas para um futuro próximo, visto que em 2010 o Brasil já presenciou uma alta nos preços dos alimentos. Aparentemente tivemos uma economia sob controle.Porém, não podemos esquecer que a base de qualquer sociedade, na lógica econômica, é a satisfação da população na sua sobrevivência diária. Assim, enquanto a fome não bate estaremos acreditando que tudo esta bem. Mas, tempos difíceis estão por vir. Teremos aparelhos eletrônicos , mas pouca comida.

Vereador Paulino Abranches

Fonte: Folha de São Paulo,Folha/UOL,IBGE,Retrado do Brasil.